O Brincar

Brincar é uma realidade cotidiana na vida das crianças e parece ter sido sempre, de fato, a atividade principal delas. Mas o que vêm a ser o brincar? Para que serve a brincadeira?
O desenvolvimento harmonioso de uma criança depende de inúmeros fatores e um deles é o “brincar”. É brincando que elas se percebem e se localizam no mundo. Através da brincadeira, ela começa a aprender como o mundo funciona, o que pode e o que não pode ser feito.
Cada criança, a cada idade, escolhe e se interessa por brincadeiras que correspondem melhor as suas necessidades afetivas, cognitivas e sociais. É importante que ela viva cada etapa sem antecipar interesses de idades mais avançadas. Para tal, é preciso que os pais estejam sempre atentos nos tipos de brinquedos e brincadeiras que deverão apresentar aos seus filhos, bem como, acompanhar os amiguinhos com quem estão se relacionando.
Nem sempre a última novidade em termos de brinquedo (cores, luzes, sons, etc) representam maior diversão para a criança, ou seja, ela se interessará muito mais por aquilo que exige mais sua participação e lhe permite inventar.
A brincadeira, seja ela qual for, o cantar, o pular, o correr, o contar casos e/ou histórias, os jogos, o “faz de conta”, o modelar, o desenhar, o pintar e até mesmo o escrever, são atividades que expressam a forma como a criança pensa, reflete, organiza, desorganiza, constrói, destrói e reconstrói o mundo a sua volta. É também um espaço onde ela pode expressar, de modo simbólico, suas fantasias, seus desejos, medos, sentimentos agressivos, lidar com sua sexualidade e vivenciar os diferentes papéis sociais. “A brincadeira é portanto um espaço de aprendizagem”. Por exemplo, no caso do jogo com os outros, a criança vai começar a perceber que existem regras, sorte, e que quando perdemos o mundo não acaba. Se ela perdeu o jogo, pode ganhar numa outra vez. As crianças precisam entender que perder não é sinônimo de inferioridade, assim como ganhar não demonstra superioridade.
As crianças costumam repetir com freqüência determinadas brincadeiras, e essa repetição pode corresponder a algum desfio não superado, alguma preocupação, algum problema É uma maneira de lutar contra a ansiedade, contra a angústia, de expressar o que teria dificuldade de colocar em palavras. Isso acontece também nos contos de fadas e histórias infantis que a criança pede que sejam contados e recontados por várias vezes, também na tentativa de elaborar, entender determinada situação conflitiva. Quando isso não ocorre de modo satisfatório a criança cria sintomas como: a mentira, a enurese noturna (o xixi na cama), a agressividade, a dificuldade nos relacionamentos e na aprendizagem, etc., para revelar que algo não vai bem com ela. É nesse momento que precisa de ajuda. E é justamente aí que nos comprometemos a auxiliar os pais nesse encontro com seu filho.
A ludoterapia (psicoterapia infantil através do brincar) seja individual ou em grupo, possibilita a elaboração de conflitos que a criança por si só não está conseguindo superar, favorecendo a organização de suas relações emocionais e sociais. Paralelamente a este trabalho, temos as orientações sistemáticas com os pais, além de grupos de pais que têm como objetivo discutir questões pertinentes ao desenvolvimento e educação de seus filhos.

Irene Ap. F. Mendes e Sandra M. Potenza